O centauro no jardim moacyr scliar pdf
Em um campo avista um centaura, chamada Tita Marta — Martita- Tita sendo perseguida. Guedali primeiro e Tita depois. Embora tenham cascos, agora possuem apenas um par de pernas! Voltam para o Brasil, D.
Casa-se com Tita. Casam-se e ele leva Tita para conhecer seus pais em Porto Alegre. Todos judeus. Ele enriquece. Tita se revolta e entristece. Isola-se de todos devido ao sofrimento. Guedali vai ao Marrocos tentar reverter sua cirurgia.
Peri diz que sim. Chega na fazenda todos os familiares de Guedali, exceto Bernardo. Me trouxeste para este fim de mundo, para este lugar onde no h gente, s animais. De tanto eu olhar para cavalos, meu filho nasceu assim. Guedali cresce na fazenda. Gosta de caminhar, apesar de um defeito de nascena tem um p levemente esquino, o que o obriga a usar sapatos ortopdicos e lhe dificulta a deambulao. Nos trs primeiros excertos, percebe-se que, alm de narrador-protagonista, Guedali onisciente.
Alm de a narrao apresentar-se em primeira pessoa, o narrador consegue saber os pensamentos e sentimentos das personagens secundrias. Por outro lado, no ltimo exemplo, h uma troca de narrador. Ele continua sendo narrador-personagem, s que no mais protagonista.
Durante essa narrao, o foco narrativo se intercala entre Tita e Guedali. Encontra-se ainda, no decorrer da obra, a presena de um terceiro narrador, aquele que s observa, no participa dos acontecimentos: Dona Cotinha uma verdadeira me para os 5. Guedali e Tita no precisam se preocupar com nada. Passeiam pelo campo, a p ou a cavalo. Dessa forma, percebe-se que o autor consegue inserir em todos os aspectos literrios, o elemento hbrido. Nesse excerto, como em outros tantos presentes no decorrer da obra, percebe-se um afastamento intencional do narrador-protagonista.
Guedali: metfora para a questo da identidade individual Guedali, narrador-protagonista, demonstra na obra, que em toda a sociedade h regras. O indivduo que no se enquadra dentro dessas regras pr-estabelecidas considerado um estranho no ambiente em que vive.
No incio do livro O Centauro no Jardim, Guedali, em seu tempo fsico-presente reflete sobre o que considerado normal e o que se intitula esquisito: Somos, agora, iguais a todos. J no chamamos a ateno de ningum. Passou a poca em que ramos considerados esquisitos porque nunca amos praia, porque a Tita, minha mulher, andava sempre de calas compridas.
Esquisitos, ns? Na semana passada veio procurar a Tita o feiticeiro Peri, e, aquele sim, era um homem esquisito um bugre pequeno e magro, de barbicha rala, usando anis e colares, empunhando um cajado e falando uma lngua arrevesada.
Talvez parea inusitado uma criatura to estranha ter vindo nos procurar; contudo, qualquer um livre para tocar campainhas. E, mesmo, quem estava vestido esquisito era ele, no ns. Ns temos uma aparncia absolutamente normal. A diferena no meio social passa a ser, nesta viso, uma caracterstica comum espcie humana.
Quando a diferena no includa na constituio da identidade, passa-se pelo processo de estranheza do outro, que ser percebido como algo exterior, fora do esperado. Nesse caso teramos o etnocentrismo, ou seja, a minha etnia superior s outras ponto de partida para a no aceitao das diferenas. Para embasar essas observaes, ainda no primeiro captulo percebe-se a presena dos estudos de Freud sobre o sono e os sonhos e a dupla identidade existente em nossa personagem e em todo ser humano: Isto : quase tudo bem.
Ainda h coisas que me incomodam. Minha insnia, meu sono agitado. Volta e meia acordo noite com a sensao de ter ouvido um rudo estranho o ruflar das asas do cavalo alado? Mas impresso. Tita, que tem ouvido excepcionalmente apurado, no escutou nada: dorme tranquila.
E, pela pupila, como por uma janela, para saber com que sonha. S que a ela o onrico equino no incomoda. A mim, sim. Porque preciso corrigir os meus sonhos.
Se o cavalo me incomoda, posso elimin-lo. Nos sonhos comeam as inquietudes, mas neles no terminam. Tambm na viglia me acontecem certas coisas esquisitas que parecem mensagens inquietantes. Porm, como o prprio Guedali afirma, mesmo em estados em que nosso consciente est em viglia, h algo dentro da personagem que o inquieta o id no permanece totalmente adormecido. O centauro, esse ser j hbrido por natureza, invade o territrio do romance e constituise tambm de fantasias e aventuras, embasado no mito regional do gacho como centauro dos pampas.
Para Campbell , todos os mitos esto relacionados com a psiqu humana e so manifestaes culturais da necessidade universal de explicar as realidades sociais e espirituais. No decorrer da narrativa, mesmo aps a negao da origem, o gauchismo e o judasmo, com a amputao da metade cavalar, Guedali quer restituir sua parte animal que, no sendo mais possvel via cirurgia, ele a consegue, fugindo para o livre galopar dos pampas estancieiros.
De modo metalingstico, pensando no espao do prprio romance, a obra mostra a eterna insatisfao do homem com seu espao constitudo, porque para se acomodar s suas leis, precisa de aspectos deixados no mundo que abandonou e, por isso, luta sempre para ampliar e redimensionar seu espao atual, fruto do desejo de transcender um mundo pronto e acabado nascido da prpria ambigidade que o homem.
Ah, no? No acredita? E estas pernas, moa? Estas pernas que no param quietas durante o dia e que no me deixam dormir noite, o que so estas pernas incansveis, moa? Que energia inesgotvel as anima? Moa, h noite em que galopo quilmetros. No que eu assim o queira; so as pernas que no param. Claro, eu poderia cruz-las, fazer com que se subjugassem uma outra pelo prprio peso. S que a eu correria outro risco: o da fuso. J imaginou, as duas pernas se unirem num apndice nico? J imaginou esta espcie de cauda se recobrindo de escamas, me metamorfoseando naquele ser ainda mais improvvel que o centauro, o macho da sereia?
Esse trecho, na voz de Guedali, retoma a mesma idia apresentada no trecho anterior: a metfora do homem contemporneo com sua dupla identidade. As pernas se referem ao id de Freud, a parte animal que s libertada noite, atravs dos sonhos.
Ao citar o exemplo da fuso, em que as pernas se uniriam em um apndice nico, a personagem no se imagina ainda um ser social e sim um outro ser hbrido. Vale salientar que ao se referir a dupla identidade, pressupe-se que uma delas a que apresentada sociedade, o ser humano regido por regras e inserido num determinado 7. A outra identidade est no lado obscuro desse mesmo ser humano. Porm, essa outra identidade no nica.
Ela pode se revestir de inmeras outras. No caso de Guedali, a identidade russa, judia, gacha e principalmente, animal. Ao inserir essas reflexes na obra, insere-se o fluxo da conscincia, em que o narrador personagem efetua um monlogo interior, afastando-se psicologicamente das pessoas que o cercam A radicalizao dessa sondagem interna da mente acaba deslanchando um verdadeiro fluxo ininterrupto de pensamentos que se exprimem numa linguagem cada vez mais frgil de nexos lgicos.
Alis, em O centauro no jardim, tem-se o que Pires , p. O leitor ouve o pensamento de Guedali. Segundo o autor, essa tcnica muito empregada para a expresso do inconsciente, que est explcito nos devaneios do narrador-protagonista Guedali. Este faz com que o leitor mergulhe em sua conscincia, buscando a adeso do leitor s suas convices. A descentaurizao de Guedali na voz de Tita e as fronteiras entre o real e o irreal Todorov faz uma distino quanto natureza da fronteira entre os dois domnios: acontecimentos que parecem sobrenaturais ao longo de toda a histria, no fim recebem uma explicao racional, levando, por muito tempo a personagem e o leitor a acreditar na interveno do sobrenatural, porque tinham um carter inslito e classificam-se no fantstico-estranho.
At o dcimo captulo, Guedali quem narra toda a histria. No ltimo captulo, dcimo primeiro, a narrativa se torna hbrida. Inicia-se com Guedali situando o leitor de sua indignao com o servio do restaurante.
Em seguida, relata a conversa de Tita, sua esposa, com uma moa estranha, em que Tita relata outra verso da histria de Guedali: [ O Guedali de quem fala me to irreal quanto o seria um centauro para qualquer pessoa.
A histria que Tita narra, contudo, bem verossmil: no h centauros nas cenas equestres que descreve. A presena do fluxo de conscincia se faz presente tambm nesse trecho. O fantstico presente at esse momento na narrativa, toma, de acordo com Todorov, ou o carter de fantstico-estranho, ou o carter de fantstico puro.
O primeiro, como pode-se presumir no excerto acima, ser embasado na verso de Tita. O segundo, em contrapartida, na verso de Guedali. Tumor, como gerar um: imagine um centauro. Imagine-o imvel. Imvel, mas pronto para o galope, a cabea projetada para a frente, os punhos cerrados, os tendes retesados. Essa figura, imaginria, gera naturalmente uma tremenda energia ainda que imaginria. Energia essa que invade tuas pupilas dilatadas, flui ao longo do nervo ptico, chega ao crebro e a comea a se acumular num remanso qualquer.
O redemoinho, dessa forma provocado, ativa extraordinariamente clulas at ento pacatas, com o resultado de que comeam a proliferar anarquicamente, la povos primitivos. Logo ters um ndulo, o ndulo cresce, emite apndices maneira de patas, de tronco, de braos, de cabea e pronto, eis formado no interior mesmo da massa cerebral o modelo miniatural de um centauro [ Aqui, a linguagem toma uma ambigidade extrema.
A personagem fala de um problema fsico: um tumor. Ao mesmo tempo, esse tumor pode ser retomado como o id. A parte obscura. O lado que gera um centauro. O ser humano imvel no meio da sociedade, corpo tenso pelo estresse das obrigaes, pelas obrigaes, porm, cheio de energia interior, posto que, apesar de racional, um animal.
Essa energia retida sai do seu inconsciente e aflora no seu consciente, libertando o animal at ali preso liberta-se o centauro que h em cada um. Para concluir esta anlise, faz-se necessrio partir do princpio, o ttulo da obra: O centauro no jardim. Ele inicia-se por um artigo definido O.
Centauro, como j foi abordado anteriormente, esse ser hbrido, metade animal, metade racional. Ele no est em qualquer lugar, est no jardim, um local determinado pela preposio e pelo artigo definido. De acordo com Chevalier , p. Guedali, narrador-protagonista, transporta-se para fora do mundo, atravs de seus sonhos devaneios. Percebe-se, assim, a presena dicotmica j abordada: a natureza. O problema levantado inicialmente foi descobrir de que maneira a leitura desse livro pode auxiliar o aluno na re construo de sua identidade.
O centauro no jardim prope, atravs do olhar de um narrador-protagonista de origem judaica, nascido nos campos do Rio Grande do Sul e residente na cidade de So Paulo, representar o homem hbrido ps-moderno, metaforizado em um centauro - um ser hbrido e complexo, portador de significativas dicotomias: o real e o fantstico; o humano e o selvagem; a liberdade e a moralidade social; o racional e o irracional.
Dessa forma, Moacyr Scliar insere no mbito do cotidiano mais corriqueiro, o centauro, como se o absurdo pudesse conviver com a realidade. O fantstico de Moacyr Scliar demonstra que o imaginrio o real, ou seja, o fantstico alia a sua irrealidade primeira a um realismo segundo, a fantasia ultrapassa o real, desafia-o.
Desse modo, a fantasia no prope apenas uma nova realidade, mas tambm, ultrapassa as representaes sistematizadas pela sociedade, criando uma outra forma objetiva de conhecer, perceber e interpretar a realidade.
Possui uma lgica prpria que construda a partir da articulao da narrativa, que age como metfora, buscando a identificao do leitor com o narrador-personagem. Aps a elaborao desses estudos e anlises foram elaboradas atividades direcionadas aos adolescentes alunos de 8 srie atravs de um Projeto Literrio em anexo. Tais atividades iniciaram-se durante a leitura coletiva e individual da obra.
Atravs dos elementos extrados de da obra, propiciou-se a verbalizao do que o aluno pensava e sentia bem como o desenvolvimento de atividades que ofereceram subsdios habilidade de respeitar as diferenas presentes em nosso meio social, ampliando as possibilidades de o adolescente se colocar no lugar do outro. Eco , p. Neste trabalho, ao entrar no jardim do Centauro-Guedali, foi utilizada uma das bifurcaes.
H vrias outras, to complexas quanto essa, a serem exploradas na obra. Cabe a cada leitor escolher o caminho, o resto, fica por conta do olhar que o leitor lanar no jardim escolhido. Dicionrio de mitos literrios.
Rio de Janeiro: Jos Olympio, O poder do mito entrevista. Entrevistador: Bill Moyers. Dicionrio de smbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, nmeros. ECO, Umberto. Seis passos pelos bosques da fico. So Paulo: Companhia das Letras, A linguagem do espao e do tempo. So Paulo: Perspeciva, O foco narrativo. So Paulo: tica, Tempo contra tempo, ou a sociedade hipermoderna. Os tempos hipermodernos.
So Paulo: Barcarolla, A criao literria: prosa. O tempo na narrativa. As dimenses do fantstico. In: Id. Gregos e baianos: ensaios. So Paulo: O Brasiliense, Manual de teoria e tcnica literria. Rio de Janeiro: Presena, O centauro no jardim. O sujeito contemporneo: um olhar literrio. Caderno de pesquisas virtuais da UFMG: Introduo literatura fantstica. So Paulo: Perspectiva, Identidade e diferena: uma introduo terica e conceitual.
Identidade e diferena: a perspectiva dos estudos culturais. Petrpolis: Vozes, Solange Salete Tacolini Zorzo Analisando a capa O nome semitica vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo.
Semitica, portanto, a cincia dos signos, a cincia de toda e qualquer linguagem. A Semitica a cincia que tem por objeto de investigao todas as linguagens possveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituio de todo e qualquer fenmeno de produo de significao e de sentido. Santaella, L. O que Semitica. So Paulo: Brasiliense. Questo A prtica discursiva pode ser considerada uma prtica intersemitica, na medida em que integra produes no somente lingsticas, mas de outros domnios semiticos, tais como o musical e o pictrico.
Observando a capa do livro, antes da leitura do texto, qual a interpretao literal que voc fez da capa? Para Sigmund Freud, o ego como instncia consciente da personalidade, de tal forma pressionado por conflitos entre as foras pulsionais desejos primrios vindas do id e as regras sociais introjetadas pelo superego que nem sempre consegue agir de modo equilibrado.
Ao analisarmos a capa, percebemos que o autor lanou mo de outros recursos simblicos que no a linguagem verbal, e que esse recurso simblico tem um significado especfico no interior da obra e mais diretamente com esse excerto do livro. Portanto, 2. Por que, na capa do livro, o centauro aparece pela metade?
Quais as cores predominantes na gravura e o que elas sugerem a respeito da temtica abordada na obra? Aps a leitura da obra e suas interpretaes em sala de aula, suas expectativas em relao ao significado da capa foram refutados ou confirmados?
Justifique sua resposta. Mas s inspirao no suficiente". Lauro Henrique Jr. Para embasar sua tese, utiliza ainda palavras do escritor alemo Hermann Hesse, ganhador do Prmio Nobel de Literatura: Sem palavras, sem escrita e sem livros no haveria histria, no poderia haver o prprio conceito de humanidade. Diante disso, relate o que voc entendeu na leitura das palavras de Moacyr Scliar. Pesquise no prprio livro e em outras fontes, algumas informaes sobre o autor: 5.
Nome: 5. Local e data de nascimento: 5. Formao acadmica: 5. Outras obras: 5. Temticas abordadas em suas obras: 5. Algum fato importante sobre sua vida: 5. Aps conhecermos um pouco mais sobre Moacyr Jaime Scliar, poderamos afirmar que o romance O Centauro no Jardim toma ares de memria autobiogrfica do autor, com toques ficcionais, claro. Justifique essa afirmao, comparando dados da vida do narradorprotagonista, Guedali, com dados do autor da obra.
A forma espao-temporal do romance Percebe-se que, em O Centauro no Jardim, o contraste entre o tempo psicolgico e o tempo fsico, ao longo da obra, gera a tenso necessria ao equilbrio da prpria coerncia do texto, j que se trata de um romance no qual o narrador-personagem experimenta essa dupla temporalidade e se angustia ante seu passado inusitado. O tempo na histria se articula em dois planos: um no presente e outro no passado.
O outro remete a um tempo localizvel cronologicamente, num flashback. Flashback o ato de trazer memria um pensamento, uma imagem, uma sensao do passado; recordao, lembrana. Sendo assim, podemos afirmar que o autor se utiliza dessa tcnica na estrutura de seu livro, porm de forma inusitada.
Observe: Explique com suas palavras como o autor introduziu o flashback em sua obra: Questo
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